arquivo

Arquivo da tag: Playcenter

Vista aérea do palco principal do Planeta Terra / Créditos: Terra

As comparações entre festivais são inevitáveis, especialmente num ano como 2011, com 3 festivais de porte mais consideráveis contando com atrações internacionais e nesse sentido o Planeta Terra saiu em maior desvantagem. Apesar do êxito em atrair bandas num timing apropriado, afastando a sensação de hype em delay de outras edições, ficou uma sensação de que faltou sustentação. Strokes, 10 anos depois de lançarem um álbum daqueles que é um retrato de uma geração fizeram ingressos se esgotarem em 14 horas, contrastando com um mês para o esgotamento da edição de 2010, surpreendendo até a organização do festival. Mas fora isso, nada que saltasse flagrantemente aos olhos.

Quando se olha para um Rock in Rio ou SWU, não é necessário pensar muito para concluir que o desafio de organização para o Planeta Terra é de uma grandeza menor, o que facilita a vida. Mas não pode-se deixar de exaltar a organização impecável do festival. Problemas mínimos no áudio; Excelente circulação de público (melhor ainda do que na edição do ano passado); Espaços bons mesmo com ingressos esgotados; Filas para banheiros e caixas fluindo com uma rapidez surpreendente; Uma pontualidade incrível – Somente o Groove Armada que atrasou 20 minutos, na última apresentação do festival, o que não comprometeu o evento, e diga-se foi perfeitamente compreensível, afinal, o palco alternativo estava praticamente deserto na hora marcada para o início do show.

Sem surpresas, a parte musical destoou um pouco do resto. Alguns shows bons, outros nem tanto e a esperada sensação de um show do Strokes com abertura de luxo. O público, salvo alguns momentos, estava consideravelmente morno, claramente se poupando para a trupe do Casablancas.

O rapper eclético Criolo abriu os trabalhos no palco principal com uma apresentação que já estava inflada de expectativa pelo prêmio do VMB. Com aquela camisa homenageando o Sabotage, se ele estivesse do outro lado certamente as pessoas olhariam torto para ele. Uma retórica que me lembrou muito o ex-presidente Lula, um show que circula pelo rap e passeia pelo samba, reggae e afins. Estranhamente, na hora do hit “Não Existe Amor em SP”, nenhuma ovação quando começaram a tocar a faixa.

Passada rápida para conferir os sorocabanos The Name no palco menor. A banda tem energia e toca bem ao vivo. Acontece que o nome da banda reflete bem o som dos caras, e quando a banda se chama The Name, isso não é um elogio.

Subindo no palco principal, o Nação Zumbi veio carregado da sua habitual percussão e veio “mordido”. Levantaram o público, que pulava bastante até mesmo na cadenciada “Maracatu Atômico”. O vocalista Jorge Du Peixe deu uma alfinetada sobre a posição menos nobre dos shows nacionais nos festivais, sob a alegação de que o público passa muito calor para prestigiar os nomes locais. Como carioca, discordo da reclamação com o calor paulistano, e acho que show de fim de tarde em festival é das coisas mais agradáveis. Mas a deixa para bandas brasileiras terem uma posição mais nobre é pertinente. A propósito, foi o melhor show do festival na minha opinião.

Em seguida a pin-upice brega do Garotas Suecas no Indie Stage. Francamente, só lembro do momento mais inusitado do festival, que a banda proporcionou – a aparição de Jacaré para uma coreografia no palco. Nada muito impressionante.

Abrindo as atrações internacionais, os ingleses do White Lies tocaram no Main Stage. Já tinha maquinado na cabeça que depois de ver tantos shows neste ano, nenhum havia destoado negativamente. O show do Miami Horror no Circo Voador seria um forte candidato se eu tivesse ido, o que não foi o caso. A “honra” coube ao White Lies. Post-punk é um dos meus gêneros favoritos, e eu seria injusto em dizer que tocaram mal, especialmente com o baixista. O problema é a presença de palco nula da banda, meio insegura. Fazendo uma analogia tosca, o show do White Lies foi a ruiva baranga.

Uma sequencia de horários um pouco incoveniente para quem vai ver estas bandas novamente na Terça-feira. Toro y Moi mostrava energia e muita competência com seu aclamado chillwave no palco alternativo. Enquanto isso o Broken Social Scene dava aquela chancela mais indie ao festival no palco principal. No entanto, a mixagem estava prejudicando bastante as vozes da banda e os canadenses estavam bem burocráticos. Uma apresentação decepcionante para aqueles menos afeitos ao hype e não ansiosos com Strokes – eu, por exemplo.

Se dá pra dizer que alguém roubou a cena, foram os americanos do Gang Gang Dance. Vi apenas 20 minutos do show, mas os convidados de última hora faziam uma mistura impressionante de world music. Um experimentalismo passando perto da linha tênue que indica o ridículo. Todos com quem conversei que viram o show foram unânimes em apontá-lo como melhor do festival.

Dispensei o Gang Gang Dance pois tinha uma dívida de mais de três anos a pagar com o Interpol. Foi bem paga. Paul Banks e sua turma fizeram aquela apresentação com presença soturna, David Pajo mostrando que substitui bem Carlos D no baixo Brad Truax acompanha bem a banda no baixo, recebendo o devido destaque no áudio – um dos diferenciais dessa fábrica de hits nova-iorquina. Com tantos sucessos para os fãs da banda, que não era a estrela do festival, acaba sendo previsível que algumas faixas muito apreciadas tenham ficado de fora do setlist.

Queria ter visto com um pouco mais de afinco o Goldfrapp. Vi à distância pois o cansaço de 7 horas de festival bateu forte. Mas do pouco que eu vi, foi de uma impressão muito positiva. Considero o Goldfrapp melhor remixado, mas ao vivo às faixas originais crescem bastante. Houve alguma crítica ao playback da fantasiada Alison Goldfrapp, mas compreendo. Era o show mais próximo ao pop do festival, e shows mais coreografados são praticamente inviáveis sem o auxilio de um playback.

Beady Eye é a banda do Liam Gallagher, basta bater o olho no palco pra ver. A banda conseguiu nascer mais velha que o finado Oasis mas arrebatou os fãs da antiga banda. Aliás, quantas camisas do Manchester City no Playcenter, mas não era o Futebol o motivo. Queria ver se esses “torcedores” saberiam a escalação do time no auge do Oasis. Enfim, o Liam tem presença, se esforça, mas não é aquela coisa. Aliás, Andy Bell no baixo em uma das guitarras dessa banda é um desperdício como escovar os dentes com a torneira aberta.

Completamente deslocados no Indie Stage, o Bombay Bicycle Club fez uma das apresentações mais surpreendentes do festival. Um repertório que transita em todas as vertentes daquilo que a gente chama de indie, com muita energia na apresentação gringa mais alegre do festival. Entra para as melhores apresentações do Planeta Terra.

Assisti o Strokes sem fazer questão. Julian Casablancas deve ter visto algum show do NX Zero e se inspirou no Di Ferreiro no seu figurino com um toque “hipster from NYC”. Vi um show bem feijão com arroz que não precisava de nada por parte da banda pra se sustentar. A ansiedade e histeria do público fizeram o serviço.

Groove Armada fechou o festival com um DJ act, mas eu confesso que depois de 11 horas de festival eu já não tinha mais pernas para dançar, já que era um momento bem menos contemplativo.

O Planeta Terra é um festival menor, e até por isso acabou ficando um pouco à sombra do próprio show do Strokes, mas o evento merece respeito. A facilidade de ser um festival dentro de uma cidade como São Paulo facilita, além da experiência com o evento já consolidada no Playcenter. Mas é inegável que o festival já tinha seu lugar ao sol antes da febre de shows internacionais tomar conta do Brasil. E é muito positivo ver um festival que trata tão bem seu público se consolidar. Os carões sempre encontraram um jeito de se manifestarem.